Supervisores permitem uso de celular com ChatGPT durante exame do ensino médio na França

Paris, França – Um episódio registrado em uma escola da capital francesa ilustrou as dificuldades crescentes que as instituições de ensino enfrentam para coibir o uso de ferramentas de inteligência artificial durante avaliações presenciais. De acordo com relatos internos, um estudante que realizava o baccalauréat — exame nacional que conclui o ensino médio e garante vaga no ensino superior — deixou cair um segundo telefone celular escondido, permaneceu com o aparelho em mãos e continuou a consultar o ChatGPT para responder às questões da prova.

O que aconteceu na sala de prova

Antes de iniciar o exame, todos os alunos haviam entregue seus celulares aos fiscais, procedimento obrigatório previsto pela regulamentação francesa. No entanto, o adolescente manteve um segundo dispositivo sem que os supervisores percebessem. Quando o telefone caiu no chão, os fiscais constataram que se tratava de um aparelho não autorizado, mas optaram por devolvê-lo ao candidato, permitindo que ele seguisse na avaliação.

Pelas regras do baccalauréat, qualquer candidato flagrado com equipamento eletrônico deve ser retirado da sala e ter a prova anulada, perdendo o direito de concluir o exame naquele ano. A decisão, porém, não foi aplicada. Funcionários indicaram que a direção temia consequências mais amplas: caso punisse o aluno, poderia ser obrigada a investigar e, possivelmente, a excluir grande parte da turma por suspeita de prática semelhante.

Pressão sobre escolas e universidades

O episódio reforça a percepção, compartilhada por administradores de universidades e escolas secundárias na França e em outros países, de que impedir o uso de inteligência artificial generativa tornou-se tarefa quase inviável. Ferramentas como ChatGPT, capazes de produzir textos coerentes em segundos, estão disponíveis em smartphones de baixo custo, dificultando a fiscalização mesmo em ambientes controlados.

Professores relatam aumento de casos em que trabalhos acadêmicos são integralmente redigidos por robôs. Algumas instituições chegaram a adotar scanners de detecção de originalidade, mas o avanço dos modelos de linguagem tem tornado esses sistemas menos eficazes. Diante desse cenário, dirigentes acadêmicos avaliam estratégias que vão desde a adaptação dos métodos de avaliação — priorizando apresentações orais ou provas manuscritas — até a aceitação tácita do uso da nova tecnologia, com ênfase na verificação de raciocínio crítico e domínio do conteúdo.

Impacto nas políticas de avaliação

No contexto francês, o uso de dispositivos eletrônicos não autorizados em exames oficiais é classificado como fraude acadêmica grave. A legislação prevê não apenas anulação da prova, mas também sanções adicionais, como suspensão temporária do direito de prestar concursos públicos ou vestibulares. Apesar disso, relatos de tolerância ou de dificuldade de aplicação das regras têm se multiplicado desde o fim de 2022, quando ferramentas de IA se popularizaram.

Especialistas em educação alertam que a perda de controle sobre colas digitais pode comprometer a credibilidade dos certificados emitidos pelo sistema educacional. Para muitos, a situação exige revisão urgente dos formatos de avaliação, maior investimento em treinamento de professores e, possivelmente, elaboração de políticas de uso ético da inteligência artificial dentro das salas de aula.

Temor de efeitos em larga escala

A direção da escola parisiense envolvida no incidente argumentou que, caso aplicasse a penalidade prevista, poderia desencadear um efeito dominó, exigindo a verificação imediata de outros candidatos e atrasando o calendário de provas. Fontes internas indicam que a possibilidade de ter de barrar “metade da turma” foi considerada incompatível com a logística do baccalauréat e com a pressão por resultados acadêmicos.

O caso, agora debatido nos corredores de diferentes instituições francesas, sinaliza um dilema recorrente: preservar a integridade dos exames sem prejudicar alunos que dependem deles para ingressar na universidade. Enquanto não surgem ferramentas de fiscalização mais eficazes ou modelos de prova menos vulneráveis à IA, a tendência é que escolas e universidades enfrentem situação semelhante à observada em Paris.

A discussão deverá influenciar, nos próximos meses, tanto ajustes regulatórios do Ministério da Educação quanto a postura das comissões que supervisionam o baccalauréat. Até lá, administradores, professores e alunos seguem testando limites em um cenário educacional transformado pela inteligência artificial.

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