Cloudflare anuncia bloqueio a rastreadores de IA até que haja pagamento a criadores de conteúdo

NOVA YORK, 1º de julho – A Cloudflare declarou que passará a barrar, por padrão, rastreadores de inteligência artificial que coletam dados online sem compensar os detentores do material. O anúncio foi feito na sede da empresa, no One World Trade Center, em um evento batizado pelos executivos de “Dia da Independência do Conteúdo”.

De acordo com o CEO Matthew Prince, a medida entra em vigor imediatamente. Ferramentas que varrem sites para alimentar modelos de IA continuarão a acessar conteúdos hospedados na rede da Cloudflare apenas se a empresa responsável comprovar que remunera publishers, jornalistas, artistas ou demais criadores. “Não pode haver rastreamento por IA sem compensação”, afirmou o executivo em comunicado distribuído à imprensa.

Responsável por fornecer serviços de infraestrutura a milhões de sites, a Cloudflare posiciona-se como intermediária entre plataformas de IA e quem produz informação. A companhia defende que, sem um novo modelo econômico, a proliferação de sistemas generativos ameaça a sustentabilidade de veículos de comunicação já pressionados por queda de publicidade e receitas de assinatura.

Contexto de pressão sobre a indústria

A iniciativa surge num momento em que redações tradicionais e publicações independentes buscam fontes de renda adicionais. O avanço de grandes modelos de linguagem, capazes de criar textos, imagens e músicas a partir de material existente, intensificou o debate sobre uso de conteúdo protegido sem autorização ou pagamento.

No plano regulatório, a Securities and Exchange Commission (SEC) exige que companhias listadas descrevam de que forma utilizam IA em seus negócios, o que inclui métodos de coleta de dados. A exigência, embora não proíba expressamente o scraping de sites públicos, pressiona o setor a revelar práticas antes pouco transparentes.

Nos tribunais, as vitórias têm sido divididas. Recentemente, um juiz nos Estados Unidos decidiu que a Anthropic não é, em princípio, responsável por treinar seu modelo com textos obtidos na internet. Contudo, a mesma decisão reconheceu infração envolvendo obras literárias protegidas distribuídas sem autorização, indicando que a jurisprudência sobre propriedade intelectual permanece em evolução.

Medida prioritariamente comercial

A Cloudflare admite que o bloqueio não se baseia em ordenamento jurídico, mas em posicionamento comercial. Ao controlar o tráfego que passa por sua infraestrutura, a empresa pretende criar incentivo financeiro para que startups e gigantes de tecnologia negociem licenças com produtores de conteúdo, iniciativa apresentada como forma de “proteger o futuro de uma internet livre e vibrante”.

Para viabilizar o sistema, a companhia estuda lançar um marketplace onde publishers poderão oferecer material licenciado a desenvolvedores de IA. A proposta, segundo comunicado oficial, é atribuir valor maior a conteúdo inédito que preencha “lacunas de conhecimento” dos modelos, em oposição a textos repetitivos que dominam a web. O mercado seria aberto tanto a pequenos criadores quanto a grupos de mídia de grande porte.

Repercussão e próximos passos

Organizações dedicadas à sustentabilidade do jornalismo, como o consórcio filantrópico Press Forward, veem a movimentação como oportunidade para recuperar parte das receitas perdidas com a transição digital. O grupo, que já destinou US$ 200 milhões a redações locais, considera o jornalismo um serviço público comparável a infraestrutura urbana.

Além de possíveis parcerias com entidades do setor, a Cloudflare planeja detalhar, nas próximas semanas, critérios técnicos para identificar rastreadores de IA e processar solicitações de desbloqueio mediante comprovação de pagamentos. A empresa não divulgou metas de receita nem cronograma para o lançamento oficial do marketplace.

O bloqueio coloca pressão adicional sobre desenvolvedores de modelos de linguagem, que dependem de grandes volumes de dados atualizados para aprimorar respostas. Caso a postura seja adotada por outros provedores de hospedagem ou redes de distribuição de conteúdo, parte significativa da web poderá tornar-se inacessível a rastreamento automático, obrigando o setor de IA a negociar termos mais claros de licenciamento.

A Cloudflare reforçou que o “Dia da Independência do Conteúdo” não se encerra com a restrição anunciada hoje. A companhia pretende participar de debates regulatórios e trabalhar em padrões de compensação que conciliem interesses de criadores, consumidores e empresas de tecnologia.

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