O planeta completou uma rotação 1,33 milissegundos antes do habitual em 5 de agosto de 2025, tornando esse um dos dias mais curtos já registados. Embora a diferença pareça mínima, variações desse tipo exigem correções precisas em sistemas de navegação e na manutenção do Tempo Universal Coordenado (UTC).
Como se mede um desvio de milissegundos
A rotação real da Terra, ou dia sideral, dura 23 h 56 min 4,0905 s. Já o dia solar, base para os relógios civis, é de 24 h porque o planeta precisa girar cerca de 361° para que o Sol volte à mesma posição no céu. Desde a década de 1970, desvios em relação a esse padrão são aferidos com relógios atómicos e observações astronómicas.
Radiotelescópios monitoram quasares — fontes luminosas localizadas a milhares de milhões de anos-luz — que funcionam como referências praticamente imóveis. Comparando a posição da Terra em relação a esses pontos, cientistas obtêm a duração exata de cada rotação com precisão sub-milissegundo. Quando o acúmulo anual de desvios supera um segundo, introduz-se o chamado salto de segundo para alinhar o UTC com a rotação do planeta.
Fatores que aceleram ou travam a rotação
A principal influência diária vem dos ventos atmosféricos. Ao colidirem com cadeias montanhosas, estas massas de ar transferem momento para a superfície e podem retardar o planeta. No verão do hemisfério norte, esses ventos perdem intensidade, favorecendo dias ligeiramente mais curtos.
Oceano, magma e núcleo interno também redistribuem massa e momento angular. Depois de décadas de desaceleração gradual — mitigada com 27 segundos intercalares desde 1973 —, medições indicam que a Terra tem acelerado desde 2020, possivelmente por trocas de momento entre núcleo e manto.

Mudanças de longo prazo incluem o derretimento das calotas polares. À medida que água doce migra para latitudes equatoriais, a massa afasta-se do eixo de rotação, efeito comparável a uma bailarina que estende os braços para reduzir a velocidade do giro. Já a interação gravitacional com a Lua funciona como freio constante: marés puxadas ligeiramente à frente do satélite travam a rotação terrestre e transferem energia que empurra a órbita lunar 3,8 cm para fora por ano.
Por que a precisão importa
Um desvio de 1,33 ms representa cerca de 62 cm de erro na posição calculada por GPS no equador. Sem ajustes regulares, a discrepância poderia chegar a centenas de metros em poucos meses, afetando navegação aérea, telecomunicações e redes eléctricas. Modelos que combinam dados atmosféricos, oceânicos e lunares já sinalizam antecipadamente os dias mais curtos, permitindo atualizar sistemas globais em tempo real.
Assim, embora o amanhecer adiante em milissegundos passe despercebido, a monitorização contínua garante que a cronometagem mundial permaneça alinhada com o ritmo dinâmico do planeta.