A ideia de que Broadcom e Nvidia disputam um jogo de soma zero no centro de dados para inteligência artificial (IA) não se confirma nos números nem na estratégia de cada empresa. Enquanto a Nvidia consolida um ecossistema completo de computação acelerada, a Broadcom aposta em redes, chips sob medida e software de alto valor, posicionando-se como peça complementar na infraestrutura de IA.
Estratégias distintas para o mesmo mercado
A Nvidia oferece uma plataforma vertical que integra unidades de processamento gráfico (GPUs) — como as arquiteturas Hopper e Blackwell —, interconexões NVLink/NVSwitch e a pilha de software CUDA. A combinação permite criar “fábricas de IA” com até 72 GPUs por pod, ligadas entre si por InfiniBand ou pelo recém-lançado Spectrum-X Ethernet. A empresa acrescenta camadas de valor com sistemas DGX, micro-serviços de inferência (NIMS) e ambientes de simulação no Omniverse.
A Broadcom, por sua vez, concentra-se em conectividade e customização. As famílias Tomahawk e Jericho dominam o mercado de Ethernet de alta performance, e contratos multibilionários de silício personalizado com Google, Meta, ByteDance e, recentemente, um acordo de 10 mil milhões de dólares com a OpenAI inserem a companhia no cerne dos maiores clusters de IA. A filosofia “aberto, escalável e eficiente” apoia-se em padrões como Ethernet e PCIe, numa aposta de longo prazo contra soluções proprietárias.
Resultados financeiros em alta
No ritmo atual, a Nvidia fatura cerca de 187 mil milhões de dólares por ano, avanço de 56 % em relação a igual período do ano anterior. As margens permanecem elevadas: 73 % bruta e 65 % operacional, sustentando uma capitalização de mercado superior a 4 biliões de dólares.
A Broadcom opera num patamar anual próximo de 64 mil milhões de dólares, crescendo 22 % ano a ano. A margem bruta atinge 67 % e o fluxo de caixa operacional chega a 45 %. O valor de mercado ronda 1,6 biliões de dólares. A divisão de silício para IA já gera aproximadamente 16 mil milhões de dólares em receita recorrente, impulsionada pelos projetos de chips dedicados.

Escalabilidade sob lentes diferentes
Durante a apresentação de resultados, o diretor-executivo da Broadcom, Hock Tan, comparou o domínio de 72 GPUs ligado por NVLink a uma rede Ethernet Tomahawk 5 capaz de unir 512 nós. O comentário realça abordagens distintas: a Nvidia maximiza desempenho dentro do rack; a Broadcom foca na expansão entre racks e data centers.
Apesar de trajetórias separadas, a demanda por IA permite que ambas avancem sem canibalização. A Nvidia fornece a potência de cálculo, enquanto a Broadcom entrega os componentes — SerDes, NICs, óptica e switches — que mantêm esses sistemas interligados e eficientes. Assim, cada companhia consolida a sua posição numa das fases tecnológicas mais relevantes desde a chegada da internet.