Anthropic reforça equipa ao integrar fundadores e engenheiros da Humanloop

A Anthropic incorporou os três fundadores da Humanloop e a maior parte da sua equipa de engenharia, numa operação de acqui-hire que encerra em definitivo a actividade da jovem empresa britânica especializada em ferramentas para inteligência artificial empresarial.

Encerramento da Humanloop e destino da equipa

A Humanloop, criada na University College London e mais tarde participante nos programas Y Combinator e Fuse Incubator, havia sinalizado em maio que preparava o fecho das portas. A confirmação chegou agora: o director-executivo Raza Habib, o director-técnico Peter Hayes e o director de produto Jordan Burgess, bem como a maioria dos investigadores e engenheiros, passaram a integrar os quadros da Anthropic.

Um porta-voz da Anthropic esclareceu que não houve aquisição formal de activos ou de propriedade intelectual da Humanloop. Apesar disso, muito do conhecimento desenvolvido ao longo dos anos acompanha naturalmente os fundadores e os técnicos que transitaram.

Fundada em 2020, a Humanloop concentrou-se em avaliação de modelos de linguagem de grande dimensão (LLM) e em ferramentas de observabilidade, servindo clientes empresariais como Duolingo e Vanta. A empresa levantou perto de 8 milhões de dólares em rondas de financiamento lideradas pela Y Combinator e pela Index Ventures, contando ainda com o apoio de Albion, LocalGlobe, UCL Technology Fund e vários investidores anjo.

Uma tendência crescente no mercado de IA

A operação insere-se num movimento mais amplo de procura agressiva por talento em inteligência artificial. Nas últimas semanas verificaram-se outros acordos semelhantes, incluindo a integração da equipa da Windsurf na Google DeepMind. Nesse caso, o director-executivo Varun Mohan, o co-fundador Douglas Chen e vários elementos da equipa de investigação foram contratados pela gigante norte-americana, num momento em que a OpenAI também tentava fechar um acordo com a mesma startup.

Essas contratações em bloco — conhecidas como acqui-hires — permitem às grandes tecnológicas acelerar projectos internos e minimizar o tempo necessário para formar equipas do zero. Para as startups, especialmente quando os seus produtos ainda não alcançaram escala comercial, a absorção pela indústria oferece uma saída que preserva postos de trabalho, ainda que possa deixar investidores sem o retorno esperado.

Declaração dos fundadores

Num comunicado publicado no site da Humanloop, a equipa descreveu a decisão como o «próximo capítulo». «Desde o início, a nossa missão foi viabilizar a adopção segura e rápida da IA. À medida que o ritmo de progresso aumenta, acreditamos que a Anthropic é o local ideal para ampliar o nosso impacto», escreveram Habib, Hayes e Burgess. O texto agradece ainda o apoio dos investidores e destaca o papel da empresa na definição de métodos para gerir e avaliar aplicações baseadas em LLM.

Expansão europeia da Anthropic

Fundada pelos irmãos Dario e Daniela Amodei, ambos ex-OpenAI, a Anthropic permanece privada e posiciona-se como defensora do desenvolvimento «responsável» de inteligência artificial. Em maio, a empresa anunciou planos para criar mais de 100 postos de trabalho na Europa, com foco em Dublin e Londres, depois de ter aberto o seu primeiro escritório na União Europeia na capital irlandesa em 2023.

No mesmo mês, a Anthropic revelou a família de modelos Claude 4 e afirmou que a variante Claude Opus 4 oferece o melhor desempenho em programação entre os modelos disponíveis no mercado.

Financiamento e avaliação em ascensão

Relatórios de mercado indicam que a Anthropic está a negociar uma nova ronda de financiamento que pode atingir 5 mil milhões de dólares, liderada pela Iconiq Capital. Se concluída, a operação avaliaria a empresa em cerca de 170 mil milhões de dólares, aproximando-a de outros pesos-pesados privados como a OpenAI (avaliada em 300 mil milhões), a ByteDance (312 mil milhões) e a SpaceX (400 mil milhões).

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A trajectória de investimento da Anthropic inclui participações de gigantes como a Amazon e a Google, situação que tem gerado debate sobre a capacidade de qualquer actor no sector manter uma linha ética num ambiente altamente competitivo.

Impacto para colaboradores e investidores

Do ponto de vista dos funcionários da Humanloop, a transição oferece continuidade de projectos e condições para escalar o trabalho desenvolvido. Para os investidores, a falta de detalhes financeiros deixa no ar a possibilidade de perdas, uma vez que não foi divulgado qualquer retorno directo sobre os quase 8 milhões de dólares aplicados desde a fundação da empresa.

A Humanloop foi responsável por uma das primeiras plataformas de desenvolvimento de aplicações baseadas em LLM, tendo contribuído para estabelecer métodos de avaliação que hoje são adoptados em várias organizações. A incorporação desse conhecimento pela Anthropic poderá reforçar os seus esforços em fiabilidade dos modelos e em ferramentas de monitorização para clientes empresariais.

Contexto competitivo no desenvolvimento de LLMs

As empresas que lideram o avanço em modelos de linguagem disputam não apenas financiamento mas, sobretudo, especialistas capazes de optimizar arquitecturas, reduzir custos de inferência e resolver problemas de segurança. A chegada da equipa da Humanloop à Anthropic fortalece a posição da companhia num período em que rivais como OpenAI, Google e Microsoft aceleram lançamentos e investem em infra-estrutura em larga escala.

Paralelamente, reguladores na União Europeia e nos Estados Unidos avaliam novas regras para IA de uso geral, exigindo das empresas maior transparência sobre dados de treino, segurança e impacto social. Equipas com experiência em avaliação e observabilidade — exactamente o foco da Humanloop — tornam-se estratégicas para cumprir futuras exigências legais.

Próximos passos

Com a integração concluída, a Anthropic deverá alocar os ex-colaboradores da Humanloop em projectos ligados à fiabilidade de modelos e à construção de camadas de segurança para clientes corporativos. Embora não existam detalhes sobre novas funcionalidades ou produtos resultantes desta operação, a tendência aponta para aplicações empresariais cada vez mais sofisticadas, sustentadas por equipas multidisciplinares distribuídas entre Londres, Dublin e os Estados Unidos.

O mercado aguarda agora informações sobre a ronda de financiamento em curso e sobre eventuais anúncios de produtos que beneficiem directamente do know-how absorvido. Para já, a transação confirma que, na corrida pela supremacia em inteligência artificial, agregar talento continua a ser tão decisivo quanto desenvolver tecnologia.

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