Um casal de idosos saiu de Kuala Lumpur, capital da Malásia, e viajou mais de 370 quilômetros até Pengkalan Hulu, no norte do país, com a expectativa de conhecer um passeio de teleférico apresentado em um vídeo publicado na internet. Ao chegar ao destino, em junho deste ano, os dois descobriram que a atração nunca saiu do mundo virtual: o suposto “Kuak Skyride” fora criado integralmente por inteligência artificial.
A revelação veio de uma funcionária de hotel na cidade de Pengkalan Hulu. Segundo relato publicado por ela nas redes sociais, os turistas perguntaram se a colaboradora já havia visitado o teleférico que pretendiam conhecer. A recepcionista explicou que o empreendimento não existia e que as imagens exibidas no noticiário que circulava nas redes eram geradas por IA. A idosa afirmou não ter encontrado qualquer aviso sobre a falsidade do conteúdo e manifestou interesse em processar a repórter responsável pela matéria, sem saber que a suposta jornalista também era fruto de geração automática.
O vídeo que motivou a longa viagem mostra uma apresentadora segurando um microfone e descrevendo um passeio panorâmico de teleférico. Na gravação, visitantes posam para fotos, formam filas diante da bilheteria e concedem entrevistas. Publicado no Facebook, o material já havia acumulado mais de 32 mil visualizações quando o caso veio a público.
Com a repercussão, autoridades do estado de Kedah, onde fica Pengkalan Hulu, confirmaram que não há qualquer plano em andamento para a construção de um teleférico na região. Embora tenham classificado as imagens produzidas por inteligência artificial como “envolventes” e “divertidas”, os órgãos locais reforçaram que se tratava de um cenário fictício, inexistente fora do ambiente digital.
A polícia distrital de Baling, responsável pela área, emitiu um comunicado alertando a população sobre o compartilhamento de conteúdos on-line sem verificação prévia. O texto lembrou que a legislação do país permite enquadrar autores ou disseminadores de notícias falsas caso o material cause alarme público ou perturbe a ordem. Até o momento, não foi registrado qualquer prejuízo financeiro, fraude ou outra ocorrência ligada ao falso passeio de teleférico.
A situação ganhou destaque nas redes sociais malaias e em veículos de imprensa internacionais, como o britânico Independent. O episódio, segundo a polícia local, reforça a necessidade de checagem antes de confiar em informações divulgadas na internet, especialmente quando produzidas com recursos de inteligência artificial capazes de criar vídeos, locuções e personagens com aparência jornalística.
Apesar do contratempo enfrentado pelos turistas, autoridades informaram que não há investigações específicas contra indivíduos ou empresas, uma vez que não foi identificada intenção de lucro ou de lesar consumidores. O casal, por sua vez, retornou a Kuala Lumpur sem ter realizado o passeio que motivou a viagem. Não foram divulgados detalhes sobre eventuais gastos com transporte ou hospedagem.
Conforme o alerta da polícia de Baling, usuários que compartilharem publicações enganosas podem responder legalmente caso a divulgação provoque danos coletivos. As forças de segurança acrescentaram que continuarão monitorando conteúdos virais envolvendo atrações inexistentes para evitar transtornos semelhantes.
O “Kuak Skyride” permanece apenas no ambiente virtual. Enquanto isso, órgãos turísticos da região reforçam que informações sobre atrações oficiais podem ser conferidas em canais institucionais administrados pelo governo estadual de Kedah e pelo Ministério do Turismo, Artes e Cultura da Malásia.