Óculos de realidade aumentada (AR) e virtual (VR) estão a passar de ferramentas auxiliares para ativos críticos na indústria nuclear. Capacidades como simulação de emergências, operação remota de robôs e apoio em manutenção transformaram estes dispositivos em peças indispensáveis do dia-a-dia operacional. Com essa mudança, aumenta também a exigência por fiabilidade e proteção contra ciberataques, num setor onde qualquer falha pode ter consequências graves.
Do treino imersivo às salas de controlo virtuais
Centrais como Loviisa, da finlandesa Fortum, já utilizam um processo de formação totalmente baseado em VR cujo custo é estimado em apenas um décimo de um simulador tradicional. Na República Checa, a planta de Temelín, do grupo ČEZ, testa a substituição de rádios convencionais por headsets AR, fornecendo dados em tempo real aos engenheiros durante inspeções.
Além de treino e comunicação, os visores permitem ensaiar projetos de infraestrutura antes da construção, reduzir exposição humana a radiação e aumentar a precisão na intervenção de robôs. Estas vantagens, no entanto, só se concretizam se o equipamento estiver protegido ao nível de qualquer outro sistema de controlo industrial.
Superfície de ataque cresce com dispositivos de consumo
Muitos headsets disponíveis foram concebidos para entretenimento e chegam ao mercado sem autenticação robusta, encriptação forte ou políticas de atualização regulares. A diversidade de fabricantes complica ainda mais a aplicação de normas uniformes. Investigadores da Universidade de Chicago mostraram, em 2023, que falhas em plataformas comerciais de VR podem permitir desde extração de dados confidenciais até manipulação de ambientes virtuais.
Estratégia em camadas para mitigar riscos
Especialistas em segurança recomendam um conjunto de medidas para preservar a integridade de AR e VR em instalações nucleares:
1. Avaliação rigorosa de fornecedores – Antes da aquisição, é necessário verificar programas de correção de falhas, ciclos de atualização e opções de controlo de acesso de cada fabricante.

2. Gestão centralizada – A integração dos visores num sistema de gestão de endpoints próprio para AR/VR permite aplicar políticas uniformes, segmentar redes e impedir a instalação de software não verificado.
3. Atualizações estruturadas – Patches devem ser programados em janelas de manutenção, com dispositivos de reserva disponíveis para evitar paragens não planeadas.
4. Plano de resposta rápida – Os headsets têm de estar incluídos nos procedimentos de contenção e recuperação já existentes para sistemas nucleares, garantindo isolamento imediato em caso de intrusão.
A adoção dessas práticas coloca a segurança dos dispositivos imersivos no mesmo patamar das outras infraestruturas críticas. Assim, centrais nucleares conseguem aproveitar todo o potencial de AR e VR sem aumentar o nível de risco operacional ou cibernético.