Washington (EUA) – A Nvidia informou, na segunda-feira, 14 de julho de 2025, ter recebido do governo dos Estados Unidos uma nova licença para comercializar seu chip de inteligência artificial H20 no mercado chinês. A liberação, confirmada poucos dias após um encontro entre o diretor-executivo Jensen Huang e o presidente Donald Trump na Casa Branca, desfaz a proibição imposta em abril que havia interrompido as entregas do produto e gerado perdas de bilhões de dólares em receita para a companhia.
O H20 foi desenvolvido especificamente para atender às restrições de exportação norte-americanas e, ao mesmo tempo, suprir a demanda de clientes chineses por processamento de IA em larga escala. Com a autorização recém-concedida, a fabricante prevê retomar os embarques “em breve”, de acordo com comunicado encaminhado ao mercado. Não foram detalhados volumes nem prazos, mas executivos afirmaram que a prioridade é abastecer contratos já assinados antes da suspensão.
A reversão da medida ocorre em meio a crescente pressão de empresas de tecnologia dos Estados Unidos para manter o acesso à segunda maior economia do mundo. Durante a reunião na Casa Branca, Huang defendeu que a continuidade dos negócios na China é essencial para aproveitar mão de obra especializada em ciência de dados e acelerar a adoção global de aplicações de IA. O executivo acrescentou que a presença da Nvidia no país asiático contribuiria para reforçar a liderança americana frente a concorrentes locais, como a Huawei.
Desde o início do ano, Huang tem alternado viagens entre Washington e Pequim para negociar com reguladores e autoridades. A estratégia busca garantir que a empresa continue participando de projetos de computação de alto desempenho sem violar as regras do Departamento de Comércio, que restringem o envio de semicondutores avançados a entidades ligadas ao setor militar chinês. Analistas avaliam que o trânsito diplomático do CEO foi decisivo para a liberação anunciada nesta semana.
Apesar do aval para o H20, permanecem restrições sobre componentes de última geração, como as linhas H100 e B100, consideradas estratégicas para treinamento de modelos de IA de grande porte. Para contornar o bloqueio, a Nvidia planeja lançar uma versão atualizada do chip destinada ao mercado chinês, baseada em arquitetura mais recente, porém configurada abaixo dos limites de desempenho permitidos pela legislação dos EUA.
No comunicado, a companhia ressaltou que superou US$ 4 trilhões em valor de mercado recentemente e reiterou seu compromisso de “democratizar a inteligência artificial” em todas as regiões. Huang afirmou ter identificado demanda crescente por infraestrutura computacional em economias emergentes da América Latina, Europa e Ásia. Segundo ele, a adoção de modelos civis de IA sobre plataformas tecnológicas de origem americana favorece ecossistemas globais e estimula governos a “escolher a América” ao buscar soluções para digitalização de serviços.
Para o setor privado, a retomada das vendas do H20 pode aliviar gargalos de oferta enfrentados por companhias chinesas que dependem de grandes volumes de capacidade de processamento. Empresas de comércio eletrônico, bancos e startups de IA vinham recorrendo a alternativas domésticas ou alugando capacidade no exterior, o que encareceu projetos nos últimos meses. A expectativa é que o restabelecimento do fluxo de chips normalize preços e acelere cronogramas de implantação de modelos linguísticos e sistemas de recomendação.
Do ponto de vista geopolítico, a decisão sinaliza uma flexibilização pontual da política de controle de exportações de alta tecnologia dos Estados Unidos, adotada para limitar o avanço militar da China. O Departamento de Comércio, entretanto, mantém a maioria das restrições em vigor e monitora continuamente pedidos de licença, avaliando caso a caso o risco de uso dual — civil e militar — dos semicondutores.
Na bolsa de Nova York, as ações da Nvidia reagiram positivamente à notícia e encerraram o pregão de terça-feira, 15 de julho, em alta. Investidores interpretaram a permissão como indicativo de que a empresa seguirá explorando o mercado chinês, responsável por parcela significativa de sua receita em data centers. Economistas ouvidos por consultorias destacam que qualquer aumento de vendas no país asiático pode ter impacto relevante nos resultados trimestrais, dada a escala de pedidos de empresas locais.
Até que as entregas sejam normalizadas, a Nvidia afirma estar reforçando o diálogo com distribuidores chineses para ajustar estoques e prioridades de atendimento. A companhia também reiterou que continuará cooperando com autoridades americanas para garantir o cumprimento integral das diretrizes de exportação em vigor.