A Alphabet, controladora do Google, assinou um compromisso de mais de US$ 3 bilhões para comprar energia hidrelétrica da Brookfield Renewable Partners, braço de geração renovável da gestora Brookfield Asset Management. O acerto, anunciado nesta terça-feira, busca suprir a crescente demanda energética de centros de dados da companhia nos Estados Unidos.
Os primeiros contratos da operação correspondem a acordos de compra de energia (PPAs) de 20 anos, que somam 670 megawatts de capacidade provenientes de duas usinas localizadas na Pensilvânia: Holtwood e Safe Harbor. O pacote faz parte de um entendimento mais amplo que permite ao Google contratar até 3 gigawatts de potência hidrelétrica no total, caso opte por ampliar o volume nos próximos anos.
A iniciativa surge em meio à escalada de consumo de eletricidade provocada pela expansão de data centers utilizados para treinar, hospedar e operar ferramentas de inteligência artificial. Além do Google, empresas como Meta, Amazon e Microsoft intensificam as negociações com fornecedores para garantir fornecimento estável em diferentes regiões dos Estados Unidos. Esse movimento reaqueceu o debate sobre matriz energética no país, impulsionando projetos de usinas nucleares, termelétricas a gás e fontes renováveis.
No caso do Google, a busca por fontes livres de carbono combina dois objetivos: assegurar energia contínua para suas estruturas de computação em nuvem e avançar nas metas de neutralidade climática anunciadas pela companhia. Embora os novos centros de dados elevem as emissões, contratos com hidrelétricas, eólicas ou solares contribuem para reduzir o impacto líquido da operação.
Segundo a Brookfield Renewable Partners, as instalações de Holtwood e Safe Harbor passarão por processos de relicenciamento, modernização e, se necessário, reformas estruturais para atender aos requisitos contratuais. As duas usinas se situam no sistema interligado da região PJM, que cobre parte da Costa Leste e do Meio-Oeste norte-americano e abriga importantes corredores de transmissão utilizados por data centers.
A estrutura financeira prevê desembolsos distribuídos ao longo das duas décadas de vigência dos PPAs, totalizando mais de US$ 3 bilhões. Embora detalhes sobre cronograma de expansão até os 3 gigawatts não tenham sido divulgados, o framework assinado garante ao Google prioridade de contratação caso decida ampliar a capacidade hidrelétrica dentro do mesmo escopo.
Nos últimos anos, a empresa já comprometeu dezenas de bilhões de dólares em projetos energéticos para evitar gargalos de abastecimento e manter competitividade no segmento de nuvem. O reforço de fontes próprias ou dedicadas torna-se estratégico em um cenário em que cargas de inteligência artificial apresentam picos de consumo significativamente superiores aos de aplicações convencionais.
Analistas do setor ressaltam que, além de oferecer eletricidade livre de emissões diretas, usinas hidrelétricas proporcionam geração constante, com menor intermitência que parques solares ou eólicos. Essa característica se alinha às exigências de operação ininterrupta de servidores, contribuindo para a estabilidade do grid e potencial redução de custos de compensação de carbono.
Com o novo acordo, o Google amplia seu portfólio de contratos de longo prazo com fontes renováveis e reforça presença no mercado energético da Pensilvânia. A Brookfield, por sua vez, consolida a estratégia de firmar parcerias de grande escala com empresas de tecnologia em busca de energia limpa, garantindo receita previsível para investimentos em modernização de ativos.
O movimento deve acelerar as discussões sobre adequação da infraestrutura elétrica para suportar a expansão de data centers na região. Autoridades estaduais e reguladores federais acompanham o tema, avaliando impactos sobre emprego, arrecadação e sustentabilidade da matriz energética.