À medida que a inteligência artificial avança, a fronteira entre ferramenta de apoio e “colega” de trabalho torna-se mais ténue. Para Chris Fleischmann, fundador e CEO da plataforma de colaboração virtual Arthur, a tecnologia já consegue ocupar postos estratégicos, como o de chief of staff e até o de pacificador interno, agregando valor nas rotinas corporativas.
Um “chief of staff” que não se limita a agendar reuniões
Segundo Fleischmann, sistemas de IA podem realizar entrevistas curtas com equipas por chat ou voz, recolhendo opiniões sobre estratégia, funcionalidades de produto ou obstáculos operacionais. Durante as reuniões, a mesma solução regista notas, identifica tendências e apresenta dados em tempo real, sugerindo próximos passos e distribuindo responsabilidades.
O executivo descreve um ciclo contínuo: depois dos encontros, a IA envia lembretes, acompanha prazos e gera relatórios de progresso. O objetivo não é apenas automatizar a agenda, mas transformar feedback disperso em ações concretas, garantindo que vozes mais reservadas também participem do debate.
Vantagens, riscos e fadiga tecnológica
Para tirar partido desse modelo, Fleischmann alerta para armadilhas comuns. Plataformas mal concebidas e com fraca compreensão de contexto podem limitar-se a respostas superficiais. Soma-se a fadiga de IA, crescente entre profissionais que veem algoritmos infiltrar-se em praticamente todas as tarefas. Empregar entrevistas automatizadas sem real necessidade contribui para a despersonalização do ambiente de trabalho.
Outro risco é a dependência excessiva das máquinas. Equipas podem passar a delegar o pensamento crítico ao algoritmo, fragilizando a tomada de decisão humana. A mitigação, frisa o CEO, passa por capacitar gestores para usar a IA como suporte e não como muleta.
Mediador neutro e promotor de equidade
Além do papel executivo, a IA pode atuar como guardiã da cultura corporativa. Ao sondar preocupações de forma estruturada, consegue detetar desalinhamentos precoces — por exemplo, prioridades pouco claras ou falta de apoio entre departamentos. Como facilitadora imparcial, enquadra temas sensíveis sem gerar resistência, recorda objetivos comuns e assegura que compromissos sejam cumpridos.

Essa abordagem ajuda a eliminar o “viés da voz mais alta”, pois todas as opiniões são recolhidas de modo uniforme. A análise de dados sobre distribuição de tarefas evita que responsabilidades críticas recaiam sistematicamente sobre as mesmas pessoas, promovendo alocação mais justa de recursos.
Automação a serviço do capital humano
Para Fleischmann, permitir que “colegas não humanos” assumam o trabalho repetitivo abre espaço para o desenvolvimento de competências humanas. A automação inteligente atua como triagem das atividades rotineiras enquanto as equipas se aperfeiçoam para desafios futuros.
O executivo conclui que a maior promessa da IA como chefe de gabinete não é substituir a conexão humana, mas ampliá-la. Ao recolher cada voz, transformar feedback em ação e acelerar processos, a tecnologia pode ajudar as organizações a avançar de forma mais rápida, informada e equitativa.