Uma nova plataforma de inteligência artificial destinada a planejar sucessão e organizar patrimônio começa a operar no Brasil a partir desta terça-feira. Batizado de Maestro IA, o agente virtual foi desenvolvido pela startup homônima, braço tecnológico do escritório PFSA Law, e se apresenta como o primeiro sistema local especializado em diagnóstico patrimonial e sucessório com base em algoritmos.
Na prática, o software coleta informações do usuário, cruza dados jurídicos, financeiros e sucessórios e gera um plano customizado. Durante o período de testes, iniciado no ano passado, mais de 500 diagnósticos foram realizados. Com o fim da fase piloto, o serviço passa a ser oferecido diretamente às famílias interessadas e pode, ainda, integrar o portfólio de bancos, assessores financeiros, contadores e corretores de seguros por meio de parcerias em modelo white label.
Simulação aponta impacto de custos sucessórios
Para demonstrar o funcionamento da ferramenta, a equipe responsável realizou uma simulação com um casal que possui aproximadamente R$ 2,5 milhões distribuídos entre aplicações financeiras, imóveis e outros bens. O algoritmo identificou dois pontos de atenção principais: ausência de planejamento sucessório e baixa diversificação internacional.
Segundo o Maestro IA, a inexistência de um plano para inventário implicaria desembolso estimado de R$ 135 mil por cônjuge em tributos e despesas judiciais, montante que reduziria o patrimônio familiar em cerca de 13%. O valor corresponde a 179 salários mínimos ou a recursos suficientes para custear, de forma aproximada, oito anos de educação.
Estrutura e origem do projeto
O desenvolvimento da solução foi liderado pelo advogado Sandro Pereira dos Santos, sócio-diretor da PFSA Law. A ideia ganhou forma em um curso sobre inteligência artificial da Singularity University, no Vale do Silício, onde Santos se associou a Guima Ferreira, Felipe Eiras e Mauricio Cossich. O projeto recebeu aporte semente de US$ 1 milhão proveniente de um family office norte-americano e, desde então, mantém operações nos Estados Unidos e no Brasil.
Santos afirma que a tecnologia embute três décadas de experiência jurídica em planejamento patrimonial e, por meio da automação, reduz processos que tradicionalmente exigiriam semanas de análise. O objetivo é oferecer uma visão de 360 graus sobre bens, regime de casamento, sucessão, ativos no exterior e riscos fiscais, complementando serviços de gestão de investimentos prestados por bancos e plataformas financeiras.
Público-alvo e potencial de mercado
De acordo com estimativas citadas pela companhia, o Brasil abriga cerca de 500 mil famílias com patrimônio entre R$ 2 milhões e R$ 30 milhões. Nesse segmento, muitos detentores de riqueza não dispõem de assessoria especializada ou se apoiam em influenciadores e profissionais sem formação específica. A expectativa da empresa é que a inteligência artificial se torne a porta de entrada para esse público, antes de etapas mais avançadas de gestão financeira.
Embora a estreia aconteça em formato diretamente voltado ao consumidor, o Maestro IA foi projetado para se integrar a escritórios de advocacia, family offices e departamentos de grandes bancos. A companhia informa que já conduz negociações para disponibilizar a tecnologia em escala, permitindo que instituições utilizem a solução com sua própria marca.
Diferenciação diante de outras plataformas
A proposta da startup difere de sistemas focados exclusivamente em alocação de recursos líquidos, como as plataformas de investimentos que sugerem carteiras baseadas em perfil de risco. Em vez de recomendar aplicações, o Maestro IA busca mapear todos os bens, avaliar estruturas familiares, indicar alternativas de sucessão, apontar o impacto tributário de cada decisão e sugerir caminhos para proteção de patrimônio.
Para reforçar essa abrangência, a empresa destaca a capacidade de o agente conversar com o cliente em linguagem simples, interpretar documentos, calcular cenários e apresentar relatórios que podem ser compartilhados com outros profissionais de confiança da família.
Próximos passos
Com a operação comercial iniciada, a startup pretende ampliar o relacionamento com fundos de venture capital para financiar crescimento e aperfeiçoar o algoritmo. A meta é consolidar um hub digital de wealth planning adaptado à legislação brasileira, em um momento de forte transferência de riqueza entre gerações.
A companhia vê espaço para a tecnologia suprir lacunas nos serviços tradicionais, alcançando famílias que hoje não encontram atendimento estruturado no mercado ou enfrentam custos elevados para contratar especialistas. O lançamento oficial marca o início dessa estratégia, que une experiência jurídica, capital americano e inteligência artificial em busca de maior eficiência no planejamento patrimonial no país.