Um livro técnico vendido por cerca de R$ 1 mil e publicado pela editora Springer, intitulado Mastering Machine Learning: From Basics to Advanced, foi apontado por conter dezenas de citações incorretas ou inexistentes. A falha veio à tona em 30 de junho, após verificação do portal Retraction Watch, mantido pela ONG Center for Scientific Integrity.
De acordo com o site especializado em integridade acadêmica, o problema envolve referências que não podem ser encontradas em bases bibliográficas e indica indícios de que partes do texto teriam sido geradas por modelos de inteligência artificial. Entre os sinais citados estão o uso recorrente de travessões e ponto-e-vírgula, recursos frequentemente associados a conteúdos produzidos por ferramentas como o ChatGPT.
Prestígio x revisão editorial
Especialistas ouvidos pelo Retraction Watch afirmam que o episódio demonstra um desequilíbrio no sistema de publicações científicas, em que obras lançadas por editoras de grande reputação passam por menos escrutínio do que trabalhos de pesquisadores iniciantes ou de instituições periféricas. O caso teria revelado, ainda, a terceirização de etapas de revisão e uma ênfase no volume de títulos em detrimento do rigor científico.
Reações na comunidade acadêmica
Docentes e pesquisadores destacam que erros de citação antes atribuídos principalmente a estudantes agora aparecem em livros de alto custo, reforçando debates sobre o uso responsável de IA na produção de conteúdo acadêmico. Segundo críticos, enquanto estudantes enfrentam penalizações por falhas semelhantes, autores estabelecidos acabam beneficiados por sua posição em redes de prestígio.
Contexto mais amplo
A descoberta ocorre em meio a pressões crescentes sobre pós-graduandos para publicar em periódicos de alto impacto e a discussões sobre alternativas, como a divulgação de pré-prints. Para parte da comunidade, a situação sugere que modelos de negócio baseados em escala e marca podem estar ofuscando processos de revisão criteriosa, condição vista como essencial para a credibilidade científica.
Procurada por veículos internacionais, a Springer não havia se pronunciado publicamente sobre eventuais correções ou retirada do livro até a última atualização desta reportagem.