A Nvidia recebeu sinal verde do governo dos Estados Unidos para voltar a fornecer semicondutores de inteligência artificial a empresas chinesas, revertendo a proibição imposta durante a administração Donald Trump. A liberação, anunciada após encontro do presidente americano com Jensen Huang, presidente-executivo da companhia, abre caminho para que companhias de tecnologia da China reiniciem pedidos de processadores considerados essenciais em aplicações avançadas de IA.
Reunião em Washington e articulação política
Huang reuniu-se na quinta-feira, 10, com o chefe do Executivo norte-americano depois de meses de lobby em Washington. O empresário vinha defendendo que o acesso ao mercado chinês é crucial para a receita da Nvidia, que na semana passada se tornou a primeira companhia de semicondutores a atingir valor de mercado de US$ 4 trilhões. Segundo fontes próximas às negociações, a apresentação de potenciais impactos financeiros e geopolíticos convenceu integrantes do governo a flexibilizar as restrições.
Nos últimos anos, a administração Trump havia proibido a venda de determinados chips avançados à China, citando riscos à segurança nacional. A restrição afetava, entre outros produtos, o processador H100, segmento topo de linha da Nvidia para grandes modelos de IA. A partir de agora, a companhia está autorizada a comercializar uma versão ajustada, o H20, desenvolvida especificamente para respeitar os limites técnicos exigidos pelas regras de controle de exportação.
Características do chip H20
O H20 não alcança a mesma potência de cálculo do H100, mas mantém capacidade de memória ampliada, elemento decisivo na etapa de inferência de sistemas de inteligência artificial. Essa configuração atende ao teto de desempenho definido pelas autoridades norte-americanas e, simultaneamente, supre necessidades de empresas chinesas que buscam rodar modelos de linguagem, reconhecimento de imagem e aplicações corporativas baseadas em IA.
Analistas de mercado estimam que a retomada das vendas possa representar faturamento adicional de bilhões de dólares para a Nvidia ao longo dos próximos trimestres, dado o tamanho do segmento de computação em nuvem e data centers na China. Entre potenciais compradores estão provedores de serviços de internet, plataformas de comércio eletrônico e startups de IA que enfrentam escassez de chips desde o início das restrições.
Visitas à China e expectativa do mercado
Paralelamente às negociações nos Estados Unidos, Jensen Huang visitou a China diversas vezes em 2024. Nesta semana, o executivo desembarcou em Pequim, onde deve conceder uma entrevista coletiva na quarta-feira. A presença no país ocorre num momento em que fabricantes locais aceleram projetos de semicondutores domésticos para reduzir dependência de fornecedores estrangeiros, cenário que torna competitivos produtos com especificações técnicas compatíveis com os limites regulatórios.
Mesmo com a liberação parcial, o governo dos EUA continua monitorando exportações de tecnologia sensível. Fontes ligadas à Casa Branca afirmam que o objetivo é equilibrar interesses comerciais com preocupações de segurança. Entre os membros da antiga equipe de Trump que passaram a defender posição semelhante à de Huang está David Sacks, designado como responsável por inteligência artificial e criptomoedas na atual gestão.
Impacto nas relações EUA-China
Embora tensões comerciais persistam, Huang adota discurso de que a China é concorrente estratégica, não inimiga dos Estados Unidos. Para a Nvidia, manter canais de venda ativos no país asiático é parte central da estratégia global, dada a dimensão do mercado de data centers e o ritmo de adoção de IA em setores como finanças, indústria e serviços.
A decisão também repercute em concorrentes e clientes. Gigantes de computação em nuvem dos EUA observam o movimento com cautela, avaliando eventuais efeitos sobre prazos de entrega de chips e planejamento de capacidade. Já empresas chinesas esperam acelerar desenvolvimento de modelos de linguagem de grande porte, áreas de visão computacional e plataformas de recomendação, que dependem de processadores gráficos de alta largura de banda.
Especialistas destacam que o H20 pode não ser a solução definitiva para workloads mais intensivos, mas preenche lacuna crítica enquanto restrições mais amplas continuam vigentes. A expectativa é que, caso relações diplomáticas avancem, novas versões ajustadas de semicondutores — ou flexibilizações adicionais — sejam consideradas para atender à crescente demanda por computação de alto desempenho na Ásia.
Por ora, a permissão para o H20 marca a principal mudança nas regras de exportação de chips de IA desde a implementação das sanções originais. Nos próximos meses, a indústria de tecnologia acompanhará o efeito dessa medida sobre receitas da Nvidia, projetos de inteligência artificial na China e a dinâmica de cooperação e competição entre as duas maiores economias do planeta.