Sistemas de inteligência artificial conquistaram milhões de usuários em velocidade recorde, mas ainda suscitam dúvidas sobre utilidade, confiabilidade e impacto. Para orientar o público, a cientista da computação Sasha Luccioni, responsável por iniciativas climáticas na startup de código aberto Hugging Face, sugere quatro perguntas fundamentais antes de adotar qualquer solução de IA.
1. A ferramenta é a mais adequada à tarefa?
Segundo Luccioni, plataformas populares costumam ser escolhidas por familiaridade, mas alternativas especializadas podem oferecer resultados superiores. Há aplicativos voltados a problemas matemáticos por imagem, otimização de receitas ou até elaboração de orações personalizadas. O AI Index Report 2025, da Universidade de Stanford, indica que instituições dos Estados Unidos lançaram 40 modelos de destaque no ano passado, frente a 15 da China e três da Europa, ampliando o leque de opções.
2. É possível confiar na resposta?
Modelos de linguagem podem apresentar informações plausíveis, porém incorretas. A pesquisadora recomenda revisão criteriosa de cada resultado, especialmente para trabalhos acadêmicos ou profissionais, já que o sistema pode “inventar” dados sem qualquer base factual.
3. Que dados estou fornecendo?
Informações inseridas em um chatbot podem ser armazenadas e usadas para treinar o próprio modelo. Luccioni aconselha ler as políticas de privacidade antes de enviar conteúdo sensível. O tema já gerou reações regulatórias: em 2023, a Itália bloqueou temporariamente o ChatGPT por questões de proteção de dados, enquanto Coreia do Sul, Austrália e Estados Unidos manifestaram preocupação com o processamento de informações pelo chatbot chinês DeepSeek.
4. IA é realmente necessária?
A especialista lembra que a tecnologia deve complementar, e não substituir, a capacidade humana de julgamento. Questões éticas ou pessoais podem exigir diálogo com pessoas de confiança. Além disso, data centers que sustentam sistemas de IA consomem grandes volumes de energia e água para resfriamento, ampliando o impacto ambiental.
O debate ocorre em meio à rápida expansão do setor. O ChatGPT alcançou 1 milhão de usuários em cinco dias e 100 milhões em dois meses. A Microsoft prevê que sua divisão de IA ultrapasse US$ 10 bilhões em receita no segundo semestre de 2025, enquanto a ferramenta Overview, do Google, soma 1,5 bilhão de usos em mais de 200 países e territórios. Para Luccioni, a tecnologia “funciona como amplificador” das ações humanas, tornando ainda mais importante avaliar, passo a passo, se e como utilizá-la.