O ecossistema de capital de risco dos Estados Unidos ganhou, nesta semana, um novo participante com perfil pouco habitual: a Velveteen Ventures, gestora criada por Betsy Fore. Com longa trajetória como empreendedora, Fore agora assume o papel de investidora ao lançar um fundo sediado no Meio-Oeste norte-americano e voltado a rodadas seed e Série A.
A fundadora construiu duas companhias antes de migrar para o outro lado da mesa: a fabricante de alimentos infantis Tiny Organics — na qual tornou-se a primeira mulher indígena a captar uma Série A — e a desenvolvedora de aplicativos Wondermento. Após quase duas décadas criando negócios, ela decidiu concentrar esforços em apoiar outros empreendedores e multiplicar impacto.
Documentos enviados à Comissão de Valores Mobiliários dos EUA indicam que o processo de captação começou em outubro. Embora o alvo total não tenha sido divulgado, a gestora planeja aportar valores entre US$ 500 mil e US$ 4 milhões por empresa. A expectativa é compor um portfólio com pelo menos 15 a 20 startups.
A estratégia contempla quatro setores principais: saúde, clima, consumo e comunidades. Segundo a sócia-fundadora, ainda que não se trate de um fundo rotulado como de impacto, a tese parte da premissa de que retorno financeiro e propósito podem caminhar juntos. Parte do carregamento sobre lucros será destinada a tribos indígenas, reforçando o compromisso com as origens de Fore.
Além da própria fundadora, o time conta com duas executivas experientes. Karla Brollier, também de ascendência indígena e vinda da região da Patagônia, liderará as decisões de investimento em clima. Já Katherine Stabler assume a função de diretora de operações depois de atuar por décadas como advogada especializada em fundos privados.
Com a estreia da Velveteen, Betsy Fore ingressa em um grupo ainda reduzido de mulheres indígenas à frente de firmas de venture capital no país. Levantamentos anteriores apontam que o volume de recursos destinados a empreendedores nativos americanos é tão baixo que, por vezes, mal aparece nas estatísticas do setor. Para ajudar a modificar esse cenário, Fore mantém uma organização sem fins lucrativos dedicada a mentoria e geração de oportunidades para fundadores indígenas.
O processo de captação, segundo a gestora, atraiu investidores institucionais motivados por ganhos e por impacto regional. A percepção de que o Meio-Oeste reúne talentos subexplorados e valuations mais sustentáveis foi um dos argumentos que sustentaram o interesse de parceiros financeiros. Nessa abordagem, os potenciais limitados buscam exposição a empreendimentos de alto crescimento fora dos polos tradicionais de tecnologia.
Antes de criar sua própria firma, Fore acumulou experiência como investidora convidada na XFactor Ventures e na LongJump Ventures. Com bagagem no lado operacional e na análise de startups, ela também prepara o lançamento de um livro sobre empreendedorismo e capital de risco.
O nome Velveteen faz referência a um coelho de pelúcia que Betsy Fore ganhou ainda na infância, símbolo de transformação por meio do cuidado. A metáfora serve de inspiração para a tese de que o apoio correto pode levar empresas nascentes a ganhar vida e escala. Agora, com o fundo oficialmente em funcionamento, a gestora pretende colocar em prática o mesmo princípio ao acompanhar os empreendedores selecionados.
Nos próximos meses, a equipe focará a prospecção de startups alinhadas aos temas prioritários, ao mesmo tempo em que consolida a base de investidores. A expectativa é concluir aportes iniciais ainda este ano e, gradualmente, avançar para novas rodadas à medida que as companhias atinjam marcos de crescimento.
Ao unir capital, diversidade de liderança e compromisso com comunidades historicamente subfinanciadas, a Velveteen Ventures reforça a pauta de inclusão no mercado de venture capital e amplia o fluxo de recursos destinados a tecnologias voltadas à saúde, sustentabilidade e necessidades do consumidor.