O presidente-executivo da Nvidia, Jensen Huang, afirmou em Pequim que a inteligência artificial (IA) está promovendo transformações em todas as áreas da economia global. A declaração foi feita durante a Exposição Internacional de Cadeias de Suprimentos, evento que reúne governos e empresas para discutir comércio e tecnologia.
Segundo Huang, aplicações de IA já alcançam pesquisa científica, saúde, energia, transporte e logística, indicando uma mudança de paradigma que atinge empresas de diferentes portes. O executivo mencionou que o avanço rápido ocorre em diversos países, com ênfase no papel da China como impulsionadora de projetos de código aberto e na disseminação de sistemas que podem ser adotados por corporações e instituições de pesquisa ao redor do mundo.
No mesmo encontro, o vice-primeiro-ministro chinês, He Lifeng, criticou barreiras comerciais impostas por alguns governos, classificando taxas adicionais e controles de exportação como obstáculos ao livre comércio. A fala do dirigente reforçou o posicionamento de Pequim de defender cadeias de suprimentos mais integradas, mesmo em meio ao aumento das tensões econômicas com os Estados Unidos.
A Nvidia tornou-se um ponto central nesse debate por produzir semicondutores utilizados no treinamento de modelos avançados de IA. A companhia está impedida, por determinação de Washington, de fornecer seus processadores mais sofisticados ao mercado chinês, devido a preocupações de uso militar. Para atender clientes locais e seguir as restrições, a empresa desenvolveu o chip H20, projetado especificamente para operar abaixo dos limites de desempenho definidos pelo governo norte-americano.
As vendas do H20 foram suspensas em 2023, quando novas exigências de licenciamento passaram a vigorar. Nas últimas semanas, porém, autoridades dos Estados Unidos concederam as autorizações necessárias, permitindo que a Nvidia volte a despachar o produto para a China. Huang confirmou que a companhia iniciará os envios assim que os trâmites logísticos forem concluídos, qualificando a aprovação como um avanço para fornecedores e compradores do ecossistema de IA local.
O anúncio coincide com a divulgação de que o valor de mercado da Nvidia ultrapassou a marca de US$ 4 trilhões, resultado da demanda elevada por chips capazes de executar cargas de trabalho de inteligência artificial generativa. O crescimento expressivo posicionou a companhia entre as maiores do setor de tecnologia, aproximando-a de conglomerados que dominam capitalização bolsista há décadas.
Além do retorno do H20, Huang ressaltou o surgimento de soluções chinesas baseadas em código aberto, como o modelo DeepSeek. Desenvolvido com componentes considerados menos avançados, o sistema tem desempenho comparável a ferramentas originadas nos Estados Unidos, demonstrando que pesquisas colaborativas podem reduzir custos e ampliar o acesso a recursos de IA. Para o executivo, a disponibilização pública de algoritmos acelera inovações em países com diferentes níveis de infraestrutura tecnológica.
A feira em Pequim também serviu de palco para discussões sobre a necessidade de manter cadeias de suprimentos resilientes. Organizadores defenderam iniciativas multilaterais para evitar interrupções em setores estratégicos, incluindo semicondutores, baterias e equipamentos de energia renovável. Empresas presentes destacaram que restrições comerciais prolongadas tendem a elevar custos de produção e a atrasar projetos já planejados.
Embora a Nvidia tenha encontrado uma solução temporária com o H20, ainda não está autorizada a vender seus chips mais avançados, como as séries H100 e A100, a empresas chinesas. Especialistas do mercado avaliam que futuros ajustes na regulamentação norte-americana poderão influenciar tanto o ritmo de inovação quanto a competitividade de fabricantes rivais. Analistas acrescentam que a demanda interna na China por capacidades de IA deve crescer, motivando parcerias com fornecedores locais e estrangeiros.
Enquanto isso, autoridades de Pequim reforçam que o país continuará a investir em pesquisa, infraestrutura de nuvem e treinamento de profissionais. O governo chinês vê o desenvolvimento de modelos próprios como componente essencial para reduzir dependências tecnológicas externas e atender metas nacionais em setores como manufatura avançada e serviços públicos.
A combinação de pressões regulatórias, procura global por soluções de IA e iniciativas de código aberto evidencia que o cenário competitivo de semicondutores permanece em rápida evolução. A retomada das vendas do H20 na China representa um passo relevante para a Nvidia manter presença no maior mercado asiático, ao mesmo tempo em que ilustra os desafios de conciliar requisitos de segurança nacional com a expansão comercial de tecnologias emergentes.